4.9.06

Marian Keyes

Uma das minhas passagens preferidas do livro "The other side of the story", da Marian Keyes:

"(...) e passou a Jojo um prato Weeping Willow repleto de comida caseira: frango picante, arroz com ervilhas e creme de milho. Jojo suspirou profundamente e encheu o garfo.

- Santo Deus - disse o homem que estava sentado ao seu lado. Chamava-se Ambrose (...). - Belo saque.

- É comida - rebateu Jojo -. O que se supõe que eu devo fazer com ela? Artesanato?

O homem observou como outro garfo cheio de comida sumia na boca de Jojo e sussurrou:

- Caramba - o bastante alto para que todo o mundo ouvisse.

Jojo se encurvou ainda mais sobre seu prato. Tremendo idiota. Havia homens que se mostravam incomodados com ela - por sua altura? por seu apetite? -, enfim, não importava. O fato de saber que eram uns tapados não impedia que isso a afetasse.

- Jojo não faz regime. - disse Shayna com orgulho.

Bom, tinha tentado uma vez, aos 17 anos, e não havia durado nem um dia.

- Isso é evidente.
- Por Deus, Ambrose, peça desculpas! - exclamou a mulher que estava sentada a sua frente, tão magra que parecia quase transparente, e Jojo supôs que era a namorada de Ambrose.

- Por quê? Só confirmei um fato.
- Putos advogados. - Shayna fechou os olhos.

Imperturbável, Ambrose indicou Esqueletona com a cabeça.

- Olhe a Cecily. Não come nada e se mantém em forma.

'É um ponto de vista', pensou Jojo enquanto se perguntava quando Esqueletona havia tido a regra pela última vez.

- Sinto muito - se desculpou Cecily -. Normalmente ele não é tão grosso.
- Não precisa se desculpar -. Jojo sorriu para animá-la. Não merecia a pena armar um barraco por causa daquele imbecil.
- É um idiota. Não dê bola.

Cecily sentia uma forte atração por Jojo; a observou desde sua chegada. Era uma moça grande - maior do que Cecily se imaginava em seus piores pesadelos -, mas era maravilhosa. Voluptuosa e madura com aquela calça preta linda e uma blusa grafite justa, o decote e os ombros suaves e luminosos (graças, na verdade, a um creme hidratante perolado. Jojo teria contado se Cecily tivesse perguntado).

Mas o que mais extasiava a Cecily era como Jojo parecia cômoda dentro de sua pele. Até o ponto que considerou a possibilidade de abandonar a academia. Cacete, inclusive comer o que quisesse. Se funcionava com Jojo, por que não funcionaria com ela?

As mulheres costumavam ter essa reação com Jojo. Quando estavam com ela se davam conta das mentiras da induústria da publicidade e de que o tamanho não importa, que eram aspectos dispensáveis como a
joie de vivre e a auto-confiança que contava. Mas logo iam para casa e descobriam, para seu grande pesar, que elas não eram Jojo Harvey e não podiam compreender por quê haviam sentido o que haviam sentido naquele momento.'

Páginas 156-7, 2004 - 1ª. edição, DeBols!llo .

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