28.8.06

Dela

Na falta que minhas palavras falem por si próprias, Mme. Mean consegue a façanha de me ler por dentro, tim-tim por tim-tim.

"Tem, mas acabou.

E tem o resto do mundo, o peso do resto do mundo, o mundo que olha e pergunta com seus olhinhos curiosos afinal o que deu errado, a acusação velada de incapacidade e insuficiência, a insinuação da inabilidade com sua expressão de pena, coitada, prescrutando a medida da responsabilidade, do que foi que você fez dessa vez, como foi que pôs a perder, como é que pôde estragar tudo de novo, porque será que nunca funciona. E você ali, com o corpo em carne viva, tentando estancar o sangue, a dor, as lágrimas, tendo que tentar explicar o que não tem explicação, tentar se eximir da culpa que permeia implícita todo fracasso, que não sabe mais o que fazer, que não sabe se é capaz de mais do que já foi, que, sim, era de verdade, você jura que era, que nada poderia ser mais que aquilo, que era o melhor que você tinha e que talvez nunca mais consiga repetir, que você queria tanto que fosse diferente, que não sabe o que deu errado, que também não acredita, que não sabe o que foi que você fez, que você tinha todas as certezas e continua tendo, que você procurou se manter sã e salva, que estava disposta a tudo, que não compreende e que, por favor, não há mais o que você possa fazer além de tentar se manter viva."

Coluna: Madame Bovary por Ticcia, às 10:30 de 28.08.2006

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